Ansiedade
Os primeiros estudos sobre a ansiedade consideraram-na como um atributo estável e inconsciente que se desenvolve precocemente, manifestando-se sob a forma de impulso secundário ou do medo do fracasso, que orienta o comportamento.
Segundo a abordagem de Atkinson, o medo do fracasso foi também reconhecido como motivo susceptível de orientar a acção tal como o desejo do sucesso, estimulando as pessoas a fugir de determinadas situações quando a probabilidade de fracasso se torna mais saliente. Tal facto pode justificar, em muitos casos, o insucesso escolar em determinados momentos do percurso escolar, contribuindo para um abandono precoce.
No entanto, importa recorrer a Spielberg dada a diferenciação que faz entre dois tipos de ansiedade: ansiedade traço, uma característica da personalidade relativamente estável que justifica a propensão da pessoa para manifestar reacções ansiosas em múltiplas situações e ansiedade estado, que pode manifestar-se numas situações e não noutras, assumindo uma tensão transitória, dependendo das características de cada situação.
Não podemos ainda descurar que os efeitos da ansiedade podem seguir orientações diferentes, dando origem à distinção entre dois tipos: ansiedade debilitante e ansiedade estimulante.
Segundo Mandler e Saranson, a ansiedade tem sempre um efeito negativo sobre os níveis de desempenho, considerando que a motivação para evitar o fracasso tem efeitos antagónicos à motivação para alcançar o sucesso. A ansiedade está associada à antecipação do fracasso e à vergonha que lhe está associada e caracteriza-se por respostas geralmente associadas a sentimentos de inadequação, de falta de valor próprio, acompanhados de reacções somáticas como aceleração do ritmo cardíaco.
Em contexto escolar, constata-se que a resistência que alguns alunos assumem em relação a certas disciplinas (mais vulgarmente o caso da matemática), traduzida por exemplo, ao nível da assiduidade, muitas vezes pode ser explicada pelo medo que têm dos fracos resultados ”reduzindo as suas possibilidades de aprendizagem e instala-se um ciclo vicioso” (Fontaine, 2005). Assim, segundo a autora, “os alunos com mais altos níveis de ansiedade manifestam, em certas situações, comportamentos claramente inadequados que enfraquecem as possibilidades de resolver os problemas”, ao passo que os alunos menos preocupados com o seu fracasso adoptam comportamentos de luta que aumentam a qualidade do seu desempenho.
Apesar da ansiedade em momentos formais de avaliação tornar mais visíveis os seus aspectos negativos, Alpert e Haber constatam que esta pode estimular a adopção de comportamentos activos dirigidos para a realização da tarefa. Neste âmbito, importa realçar o papel que os professores podem assumir, bem como pais ansiosos, excessivamente controladores, em alguns momentos considerados determinantes para o percurso escolar/formativo dos alunos/formandos, quando os níveis de stress e ansiedade se tornam extremamente elevados.
Perante situações de ansiedade, os alunos tendem a desenvolver estratégias de coping, ou seja, esforços cognitivos e comportamentais desencadeados para gerir as exigências internas e externas de uma situação ameaçadora. Assim, as estratégias vão do planeamento da resolução das tarefas à sua concretização, do auto-controlo à procura de apoio social, da reavaliação positiva do problema às estratégias de fuga ou evitamento.
Os professores têm um papel determinante, na criação de ambientes susceptíveis de aumentar ou reduzir a ansiedade, tendo em conta todas as características dos alunos
Deste modo, apontam-se como estratégias de intervenção: (i) Professores e pais incutirem no aluno a ideia de que ele possui capacidades de realização, de modo a estimularem progressivamente a autonomia; (ii) organização curricular devidamente estruturada, apresentando critérios de avaliação bem definidos; (iii) aumento do número de momentos de avaliação, de modo a que se reduza o peso de cada um dos testes na avaliação final; (iv) redução de práticas de comparação com uma norma social em favor da comparação dos resultados com um critério fixo ou com resultados anteriores do próprio; (v) análise das razões do insucesso e transformação do erro em oportunidade de aprendizagem e de autoconhecimento; (vi) reforço do feedbck construtivo; (vii) treino de competências de estudo e de preparação e execução eficaz dos testes, como oportunidade de aprendizagem e de autoconhecimento.
Auto-conceito e auto-estima
O conceito de si próprio corresponde à percepção da pessoa das suas próprias características e a estima de si próprio é a reacção afectiva associada à avaliação global que a pessoa faz de si próprio. A capacidade do auto-conceito influenciar a auto-estima, depende do valor que cada sujeito confere a esta dimensão. O facto de gostar ou não da maneira como se vê vai determinar o sentimento de satisfação ou insatisfação, relativamente a si próprio.
O conceito de si próprio constrói-se progressivamente na interacção social e na família, na vida quotidiana.
ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NUM CENÁRIO DE ANSIEDADE EM CONTEXTO EXCOLAR
Bibliografia
Fontaine, A.M.(2005). Motivação em Contexto Escolar. (Temas Universitários) Lisboa:Universidade Aberta.