Espaço de reflecção sobre as actividades desenvolvidas na unidade curricular "Psicologia da Motivação" do Mestrado em Supervisão Pedagógica da Univ. Aberta.

Docentes: Lúcia Amante e Maria João Silva



Reflexão Pessoal

Análise e reflexão pessoal sobre o percurso realizado na Unidade Curricular

Na sua actividade pedagógica o professor procura influenciar os seus alunos para que estes se interessem pelas aulas, estejam atentos, participem, apresentem comportamentos adequados e obtenham bons resultados, no que só pode ser entendido como um exercício de liderança.
No dia a dia das nossas escolas, o exercício da liderança dentro da sala de aula é uma constante, tanto na relação do professor com os seus alunos, como na relação destes com os seus pares.
Será pois interessante perceber, que factores podem permitir aos professores influenciar os seus alunos ou, no mesmo sentido, o que é que leva os alunos a deixarem-se influenciar pelo professor.
French e Raven (1967), distinguem quatro grandes factores de influência dos professores sobre os alunos:
§  o reconhecimento do estatuto do professor pelos alunos;
§  o reconhecimento pelos alunos da capacidade de recompensar ou de punir do professor, através das avaliações e das estratégias de gestão da indisciplina;
§  o reconhecimento pelos alunos da competência do professor nos conhecimentos que este lhes pretende ensinar;
§  o reconhecimento de certas qualidades pessoais e interpessoais no professor, apreciadas pelos alunos, desenvolvendo-se processos de identificação.
Mas, se no passado, muitos alunos se deixavam influenciar pelo professor por aceitarem pacificamente o seu estatuto, por o considerarem competente na área de conhecimentos que devia ensinar e também por lhe reconhecerem poder para recompensar ou punir através das avaliações e das estratégias de gestão da indisciplina, actualmente já não acontece assim, sendo postas em causa as decisões tomadas pelo professor a este nível. A escola é desvalorizada como fonte de acesso ao saber ou conhecimento sendo muitas vezes posta em causa a competência do professor e a sua capacidade, tanto ao nível da gestão da aprendizagem como da manutenção da disciplina dos alunos. Sempre que ocorrem situações de indisciplina, de forma reiterada e sistemática com determinada turma, mais depressa se responsabiliza o professor pela incapacidade de liderar do que os alunos que revelam os comportamentos indisciplinados.  
Dos quatro factores de influência identificados por French e Raven, aquele que, actualmente, parece ter maior importância é a identificação do aluno com o professor. Isto é, o sucesso do professor junto dos alunos passa muito pelo reconhecimento de certas qualidades pessoais e relacionais no primeiro que os últimos apreciam.
O professor tem hoje uma responsabilidade moral que vai muito além do seu desempenho profissional. Ele é um verdadeiro líder que actua muito para além da sala de aula e incute nos seus alunos a capacidade de pensar, habilitando-os a escolhas conscientes. Está, assim, subentendido um perfil de líder com uma visão clara e confiante de qual o seu papel na transformação e relação que estabelece entre os princípios que advoga e a prática, dando lugar a uma cultura de escola que facilita a inclusão e a diversidade.
O papel moral do líder passa, então, por: assegurar que todos na escola percebam os princípios morais da organização e que cada um seja capaz de os apreender em sentidos e significantes próprios; criar consensos na apropriação desses princípios; monitorizar a vida da escola, assegurando que a mesma vai de encontro às aspirações e experiências de cada um; estabelecer mecanismos de mediação de conflitos, valorizando a responsabilidade pessoal e a organização conjunta de um sistema de valores.
O líder deve, ainda, manifestar atitudes coerentes entre o que diz e o que faz, ou seja, deve ser autêntico. A autenticidade resulta da interacção pessoal e profissional dos valores, da linguagem e dos comportamentos-acções.

A escola, de um modo geral, organiza-se definindo, alterando, adaptando-se continuamente às regras de um jogo social que, por um lado define, por outro determina, as condições de integração e satisfação pessoal e social na organização.
Estas circunstâncias anunciam lideranças, cujas capacidades integradoras (comunicação, negociação, mediação) são determinantes para o que se pretende da escola: sucesso pessoal - de todos os seus agentes - e social - da organização como um todo.
As mudanças no papel da escola, como território de gestão curricular a quem compete a contextualização do currículo nacional, conduzem-nos a alterações importantes no papel do professor como gestor do currículo. Este novo papel pressupõe a valorização da dimensão colaborativa no trabalho entre os docentes, de modo a possibilitar uma gestão integrada dos processos de actuação. “Os professores passam a ser chamados a exercer novas funções, para além do âmbito da acção educativa na sala de aula, concretamente, no que se refere à coordenação pedagógica da escola” (Pereira e outros, 2004, p.143).
Enquanto facilitador do ensino diferenciado chama a si a responsabilidade de fornecer e planear oportunidades de aprendizagens diferenciadas, organizar os alunos durante as actividades de aprendizagem e usar o tempo de modo flexível (Heacox, 2006).
Na escola inclusiva, as suas atitudes e comportamentos serão determinantes na forma como o aluno com necessidades educativas especiais é integrado na sala de aula e no clima de confiança que se estabelece entre os seus pares.
O professor tem, assim, um papel essencial como mediador dos processos de ensino-aprendizagem. E a mediação ocorre a vários níveis: no trabalho pedagógico, nas relações na sala de aula, na escola e também nas relações com a família e a comunidade.
Na Declaração de Salamanca (1994) é claramente assumido que a preparação adequada de todo o pessoal educativo é essencial na promoção de uma escola inclusiva. E Porter (1997) sublinha ainda que “o professor do ensino regular é considerado o recurso mais importante no ensino de alunos com necessidades especiais. Isto implica que os professores actualizem continuamente os conhecimentos e competências que já possuem e que adquiram novas competências” (p.43).
Num estudo recente LeBlanc & Shelton (1997) alargaram o conceito de liderança escolar, a professores com atitudes positivas e entusiasmo, empenhados na organização, potenciando as capacidades dos alunos através de práticas pedagógicas inovadoras e trabalho colaborativo com colegas, reconhecidos e valorizados nos seus esforços. Fullan & Hargreaves (1996) definem liderança educacional “as the capacity and commitment to contribute beyond one’s own classroom”, abrindo a possibilidade de todos os professores exercerem lideranças activas em contexto escolar.
É pois hercúleo o papel atribuído aos professores dos nossos dias e, também a eles, se pede elevados níveis de motivação, acompanhados por uma auto-estima em dose q.b., para que seja possível enfrentar com sucesso os inúmeros factores de ansiedade que cada vez mais estão no dia a dia desta profissão, com algum risco mas também com muitos aplausos e às vezes em pé.
É curioso como visto desta forma se fica com a sensação que a psicologia consegue fazer a ligação entre as várias unidades curriculares, desde as mais técnicas como o desenvolvimento curricular ou os sistemas educativos até às mais generalistas como a ética ou a gestão de conflitos.
Foi sei dúvida um interessante e mui proveitoso percurso de auto-reflexão a que nos levou esta unidade curricular!

Tratando-se à partida de uma área que considero fundamental para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem, não tive a mínima dúvida ao seleccionar esta opção no início deste mestrado.
Quando se iniciaram os trabalhos da unidade curricular foi logo perceptível que o seu conteúdo estava perfeitamente de acordo com as minhas expectativas e que o seu desenvolvimento permitiria o contacto com a fundamentação para algumas das ideias que já defendia como caminho a seguir mas, noutros casos não menos interessantes, seria a apresentação de novos rumos no alcançar da meta final – o sucesso dos alunos, construído a partir das suas aprendizagens, na e com a escola.
Curiosamente, o desenvolvimento do portefólio, que não decorreu no mesmo tempo que as restantes tarefas da unidade curricular, veio permitir sistematizar as aprendizagens feitas anteriormente. De facto, graças ao portefólio, foi possível fazer a ligação entre os vários temas e, mais interessante ainda, a ligação entre as várias teorias analisadas e trabalhadas, culminando no mapa conceptual apresentado na introdução. Contrariando a ideia que tinha inicialmente, a construção do portefólio no final permitiu-me chegar mais longe nas reflexões iniciadas no decorrer da unidade curricular, durante os vários fóruns de apresentação de trabalhos e respectivos debates.

 
Selecção da actividade desenvolvida ao longo do semestre considerada mais relevante para a aprendizagem e fundamentação da escolha realizada
Das várias actividades realizadas foi sem dúvida a última aquela que considerei mais relevante:
ü  Analisar uma situação educativa à luz das teorias da motivação como resposta afectiva e
ü  Propor estratégias de intervenção para alterar a situação educativa
A razão desta escolha deve-se ao facto de esta actividade nos dar uma melhor preparação para adquirirmos a competência desta unidade curricular que considero mais relevante “Mobilizar conhecimentos teóricos no desenvolvimento de estratégias de intervenção específicas, de natureza motivacional, face a um caso ou situação.”
A partir de uma situação real, apresentada por um dos elementos do grupo de trabalho, analisámos “um caso de ansiedade debilitante face aos testes” fazendo a caracterização do contexto educativo quer da turma quer do aluno e partimos depois para o desenho das estratégias de intervenção a aplicar.