Espaço de reflecção sobre as actividades desenvolvidas na unidade curricular "Psicologia da Motivação" do Mestrado em Supervisão Pedagógica da Univ. Aberta.

Docentes: Lúcia Amante e Maria João Silva



TEMA 2

MOTIVAÇÃO COMO IMPULSO INTERNO:

                           QUATRO TEORIAS MOTIVACIONAIS


Teorias Homeostáticas
TEORIA
PREOCUPAÇÃO
POSTULADO
DO IMPULSO
Compreender o que leva os organismos vivos a agir, a iniciar ou terminar uma acção.

O bem-estar está associado ao estado de equilíbrio do organismo e qualquer desequilíbrio gera perturbação.
Qualquer organismo deve possuir mecanismos reguladores que são automaticamente activados quando o equilíbrio é rompido.
O surgimento de uma necessidade provoca um estado de instabilidade, de tensão, que leva a um comportamento para a fazer desaparecer.
É essa tensão que é fonte de energia, o impulso.
IMPULSO SECUNDÁRIO
Compreender porque é que certos comportamentos não parecem ser motivados por uma ameaça real.

Experiências de ameaça à integridade física suscitam tensões e desencadeiam sensações de medo/repulsa.
O medo acompanha-se de reacções fisiológicas intensas que correspondem a uma ruptura do equilíbrio interno e são consideradas desagradáveis. Os comportamentos eficientes, para reduzir a tensão interna, serão reforçados independentemente de serem pouco eficientes para a produção do organismo, face às ameaças externas.

LEI DO EFEITO
Compreender porque é que os hábitos explicam a orientação da acção.

O comportamento é o resultado da interacção entre o impulso, os hábitos e o valor do objecto. Os hábitos criam-se através de associações de estímulos-resposta, sendo o impulso o responsável pela intensidade do comportamento, enquanto os hábitos definem a sua direcção.
DO ESPAÇO VITAL
Conhecer as razões das percepções humanas e compreender a escolha de actividades.

Os comportamentos estão no centro de um campo de forças e a sua orientação dependerá da intensidade e da direcção das forças em presença.
As regiões do meio correspondem a meios capazes de satisfazer as necessidades pessoais. Assim, o espaço da pessoa desloca-se dentro do espaço do meio para se aproximar de objectos capazes de satisfazer as suas necessidades.
As regiões do meio são separadas por fronteiras mais ou menos permeáveis que determinam a possibilidade de “passagem” da pessoa de uma região para outra.

PROPIEDADES ESTRUTURAIS DO ESPAÇO VITAL
Compreender que o espaço vital é a representação subjectiva de uma realidade pessoal.

As regiões do meio correspondem a meios capazes de satisfazer necessidades pessoais, isto é, corresponde aos objectos ou actividades instrumentais que, na percepção do sujeito, são capazes de satisfazer em cada momento cada uma das suas necessidades.
Para alcançar os seus objectivos e contornar este obstáculo, a pessoa terá de escolher outro caminho com fronteiras mais permeáveis.


Desenvolvidas no início do sec XX, as teorias homeostáticas “partem do postulado de que o bem-estar está associado ao estado de equilíbrio do organismo e que qualquer desequilíbrio gera perturbações. Como este equilíbrio é a condição da sobrevivência dos indivíduos e das espécies, qualquer organismo deve possuir mecanismos reguladores, que são automaticamente activados quando o equilíbrio é rompido.” (Fontaine, 2005, p.16)
Sendo convicção dos investigadores que os organismos seriam máquinas perfeitas e que à ciência competia conhecer as regras que regulavam o seu funcionamento, tanto na vertente física como na psicológica, a sua preocupação centrava-se em perceber o que levava esses organismos a agir, tanto para iniciar como para terminar uma acção.

Teorias da motivação para a realização
Pelos anos cinquenta aparecem novas teorias motivacionais que retiram o protagonismo às necessidades fisiológicas no que à motivação individual diz respeito. Aqui a ruptura do equilíbrio é vista como factor de motivação para a acção, com vista ao retomar desse equilíbrio. “Uma tarefa demasiado fácil, cujo sucesso é garantido, não suscita prazer. “ Por outro lado “quanto mais sucesso o aluno tiver, mais motivado se torna”. (Fontaine, 2005, p.46).
McClelland e Atkinson, promotores da  teoria da motivação para a realização, consideram que a motivação para agir ou “tendência para agir” é influenciada por disposições internas, estáveis e inconscientes - os motivos - que espelham as necessidades fundamentais do ser humano, bem como aspectos situacionais. Os dois factores, motivos e situações estimulam os comportamentos para a realização da tarefa ou para o evitamento.  
Nesta teoria temos dois motivos internos antagónicos:
·         Tendência de aproximação para alcançar o sucesso (prazer e orgulho face ao sucesso).
·         Tendência de evitamento para escapar ao fracasso (vergonha face ao fracasso).

Teoria Relacional
De acordo com a teoria relacional “a aprendizagem é uma actividade espontânea do sujeito qua decorre directamente da sua necessidade de estabelecer relações com o mundo” para que consiga alcançar a auto-realização (Fontaine, 2005, p.57). É com base na motivação que são elaborados projectos que permitem alcançar os objectivos individuais, sendo de realçar que tal como as necessidades fisiológicas, também as psicológicas e sociais são consideradas primárias.
A teoria relacional veio chamar a atenção para a importância da motivação intrínseca a qual permite ao indivíduo construir os seus projectos individuais com maior satisfação. Por outro lado a escolha de objectivos e a elaboração de projectos exige a capacidade de se projectar num tempo futuro.
Com a sua teoria relacional Nuttin (1985) defende que a motivação activa o comportamento e é o factor que confere o seu carácter particular ao comportamento humano, enquanto os objectivos definem o padrão para a avaliação da eficácia do comportamento, permitindo a sua auto-regulação. Qualquer acto realizado para entrar em relação com o mundo é motivado intrinsecamente e considerado importante para o desenvolvimento da personalidade.

Perspectiva Temporal do Futuro    
   A PTF faz a ponte entre a concepção da motivação como impulso e as teorias cognitivistas da motivação. A PTF partilha das teorias da motivação para a realização e da teoria relacional da motivação ( que estão na sua génese) a consideração de que a tendência para se projectar no futuro é uma característica específica do Homem. Todavia, distancia-se destas teorias na medida em que dá importância à explicação das diferenças individuais nas várias dimensões da perspectiva de futuro e à dependência da PTF em relação ao desenvolvimento cognitivo.
Segundo a PTF, “o ser humano é capaz de definir objectivos futuros e de orientar o seu comportamento em função desses objectivos na ausência de desequilíbrio e pelo simples prazer que a prossecução desses objectivos suscita.” (Fontaine, 2005). Neste sentido, torna-se fulcral perceber a dinâmica da acção, pois a tendência é para existir uma “quebra de rendimento com a aproximação do objectivo pretendido” (Fontaine, 2005), promovendo a emergência de novas abordagens centrada na análise da dinâmica da acção. Assim, a experiência mostra que a intensidade da motivação varia com o tempo em função da distância e do objectivo. Em contexto escolar, a inserção do aluno em actividades escolares ou projectos a longo prazo, poderá levá-lo a perceber o valor dessas actividades, mesmo que os resultados ou benefícios não sejam imediatos.

Dimensões da Perspectiva Temporal

DENSIDADE
Número  e diversidade das tarefas e dos objectivos projectados
COERÊNCIA
Selecção dos conteúdos das tarefas de acordo com objectivos pretendidos
ORIENTAÇÃO TEMPORAL
Os pensamentos podem ser orientados para o passado, o presente ou o futuro
ATITUDE TEMPORAL
Optimismo / pessimismo, em função da distância
HIERARQUIA DAS TAREFAS
Define  a sua organização sequencial



O desenvolvimento da PTF depende simultaneamente da evolução dos instrumentos cognitivos disponíveis, cuja diferenciação e estruturação aumenta com a idade, bem como das experiências que cada um tem oportunidade de viver durante a sua existência. Depende também do valor do objectivo e da confiança que a criança tem na obtenção da gratificação quando adia este prazer, confiança que se constrói progressivamente, a partir das experiências de socializações anteriores. Assim, as suas acções são influenciadas pelo valor de determinados objectivos e das suas expectativas de sucesso.
Os alunos que pensam que as tarefas escolares têm um baixo valor instrumental têm piores resultados escolares e uma atitude mais negativa face ao futuro, enquanto os que reconhecem os valores instrumentais das tarefas escolares têm melhores resultados escolares e uma atitude mais positiva face ao futuro. Contudo, nem todos os alunos conseguem perceber estas relações e inserir as actividades escolares numa estrutura meio-fim.

A escola pode ser considerada como um dos contextos em que uma orientação temporal para o futuro contribui para uma boa adaptação, melhorando os índices de integração escolar e de desenvolvimento pessoal. Com efeito, para ter sucesso na escola, os estudantes devem desenvolver um conjunto de comportamentos que estão associados a objectivos a curto, médio e longo prazo.
Um modelo delineado por investigadores de vários países (Lam & Jimerson, documento não publicado; Veiga et al., 2009), com o objectivo de explorar as diferentes variáveis relacionadas com o envolvimento escolar, explica de uma forma sumária as diferentes dimensões envolvidas neste processo. Os investigadores (Tucker et al., 2002; Blumenfeld et al., 2005; Chen, 2006) referem que o envolvimento na escola inclui várias dimensões e componentes. A dimensão afectiva está relacionada com a aprendizagem quando, por exemplo, se aborda a motivação intrínseca do aluno, e com a escola, ao nível da ligação e vinculação. Por outro lado, a dimensão comportamental está relacionada com o esforço e persistência nas aprendizagens, e com o envolvimento activo em actividades extra-curriculares. Por último, a dimensão cognitiva, está relacionada com o processamento de informação e com as transformações que vão ocorrendo cognitivamente. Para além da integração da dimensão afectiva, comportamental e cognitiva da adaptação à escola, o modelo do envolvimento integra factores relacionados com o contexto, com as características pessoais de cada estudante e com os resultados escolares obtidos. Todas estas dimensões interagem entre si e permitem explicar a dinâmica do envolvimento na escola (Lam & Jimerson, documento não publicado).

Vários estudos realizados permitiram concluir que uma PTF de curto prazo está associada com tendências para preferir recompensas pequenas mas imediatamente disponíveis e que ter um PTF de longo prazo está associado a preferências por recompensas maiores mas mais difundidas no tempo.



E na escola portuguesa actual? Qual a sua perspectiva temporal futura?
Grande dificuldade para os jovens em traçar objectivos pessoais

50% dos jovens que estão agora no ensino básico vão desempenhar tarefas em profissões que ainda não existem
Grandes alterações no tecido sócio-económico
Surgem novas profissões muito rapidamente
Muitas das antigas profissões estão saturadas de profissionais
Elevada e crescente taxa de desemprego
Impossibilidade de hierarquizar tarefas
Enquanto não se conhecem os objectivos a atingir
Dificuldade em alcançar resultados escolares muito elevados
Indispensáveis nos cursos superiores mais valorizados socialmente


Bibliografia
Fontaine, A.M.(2005). Motivação em Contexto Escolar. (Temas Universitários) Lisboa:Universidade Aberta.