MOTIVAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE:
TEORIAS SÓCIO-COGNITIVAS
Teoria Atribucional
A teoria atribucional de Weiner baseia-se no pressuposto de que as percepções pessoais dos sujeitos acerca das causas dos acontecimentos guiam o seu comportamento.
O principio chave da teoria reside no facto de os sujeitos procurarem compreender e descobrir a razão pela qual um determinado acontecimento ocorreu.
O nível de realização no dominio escolar não depende só da capacidade intelectual do sujeito mas também da capacidade para lidar com situações de realização neste dominio.
A compreensão das causas dos acontecimentos vai ter efeitos sobre os comportamentos subsequentes através do efeito mediador de variáveis como as expectativas de sucesso, as emoções e a auto-estima.
A analise das diferentes causas conduziu à identificação de três dimensões causais: o locus, a estabilidade e a controlabilidade.
A capacidade, o esforço, a atenção, a memoria, a ansiedade, a desobediência são causas internas, enquanto a dificuldade da tarefa ou a sorte, as atitudes ou os comportamentos dos outros, as caracteristicas do meio fisico são causas externas.
As causas internas são mais facilmente percepcionadas como controláveis do que as causas externas, embora certas causas internas, sejam frequentemente consideradas incontroláveis, como a inteligencia ou a ansiedade.
Teoria atribucional da motivação e emoção, adaptado de Weiner (1986) |
Teoria da Avaliação Cognitiva
A teoria da avaliação cognitiva pressupõe uma motivação intrínseca, em que o desejo de aprender é natural no ser humano e uma necessidade de auto-determinação.
A motivação é gerada e formada pela percepção da realidade; tem carácter prospectivo (em termos actuais), ao contrário do que se verifica na teoria atribucional, que tem carácter retrospectivo.
Tanto para a teoria de avaliação cognitiva como para a teoria atribucional, a opinião do sujeito é soberana. Pode-se dizer que estas teorias têm em comum a mestria como desejo inato (saber fazer e liberdade de escolha), mas neste ponto a primeira teoria ultrapassa a segunda.
Teoria da Auto-Eficácia
Para além de promover, como princípio básico, o conhecimento de si próprio e dos outros, a teoria da Auto-Eficácia tem em vista uma análise centrada no presente com o objectivo de fundamentar a tomada de decisão, as pessoas escolhem quais os desafios em que tomam parte (definição de metas ou objectivos), que esforço vão despender e o quanto vão perseverar face às dificuldades encontradas. Logo, defende “uma visão mais pró-activa da motivação, tentando perceber como as pessoas conseguem exercer o controlo sobre os acontecimentos que afectam as suas vidas, de modo a evitar os eventos desagradáveis e a estimular a ocorrência dos que são agradáveis” (Fontaine, 2005, p. 117), assumindo uma visão prospectiva da acção sobre o futuro. Tal capacidade permite a cada um preparar-se melhor, de forma a aumentar o controlo sobre a própria vida (processos cognitivos, emoções e acções), sobre o meio e sobre acontecimentos futuros, que corresponde ao conceito de “agência humana” (Fontaine, 2005, p. 119), constituindo um poderoso mecanismo motivacional.
São as crenças pessoais de auto-eficácia que levam à construção dos pensamentos, dos afectos, dos comportamentos e, no fundo, de toda a motivação de cada pessoa para as suas realizações. Segundo a teoria da auto-eficácia o ser humano age em função do conhecimento que tem de si próprio o qual é influenciado pelas expectativas do resultado a alcançar e pelas expectativas sobre a sua eficácia pessoal para o alcançar.
Tem em comum com a teoria das concepções pessoais de inteligência o facto de se centrar no indivíduo e desenvolver a sua análise no momento presente.
As potencialidades da teoria da auto-eficácia em contexto escolar são elevadas pois um aluno motiva-se ao realizar as actividades escolares, caso acredite que possui os conhecimentos e habilidades necessários para a sua realização, abandonando os objectivos que pensa não ter condições de alcançar. Nesse sentido, os julgamentos de auto-eficácia tendem a actuar como mediadores entre as reais capacidades do indivíduo e o seu desempenho efectivo, sendo condicionados, segundo Fontaine (2005, p. 125), por alguns factores como a influência de modelos, o comportamento auto-regulado, a resistência ao stress, a profecia auto-realizada. A eleição de um professor como modelo de identificação é fortemente influenciada pelo tipo de relação que estabelece com os seus alunos, indo ao encontro da ideia de Fontaine (2005, p. 128) quando refere que “a auto-eficácia aumenta quando os alunos recebem feedback regular… indicador claro do seu progresso”. As pessoas que possuem fortes crenças na eficácia pessoal estão convencidas de que possuem as competências necessárias para alcançar os seus objectivos ou que são capazes de adquiri-las e melhorar o seu desempenho (Fontaine, 2005, p. 127; idem, p. 129), conseguem lidar melhor com as suas emoções, antecipam geralmente resultados positivos e têm percepções mais favoráveis quanto às suas capacidades actuais, o que resulta num padrão superior de motivação. Neste sentido, perante a presença de obstáculos e fracassos, a persistência será uma característica dominante até à conclusão da tarefa. A percepção de auto-eficácia é igualmente importante ao nível dos professores “pela sensação de bem estar e de satisfação profissional que lhe está associada”(Fontaine, 2005, p. 131), podendo variar mediante a diversidade de tarefas desempenhadas (ensinar, motivar, avaliar).
A teoria sociocognitiva da motivação, partilha com as outras teorias a certeza de que os indivíduos desenvolvem crenças que organizam o seu mundo, dão significado às suas experiências e orientam o seu comportamento. Contudo, com a teoria das Concepções Pessoais de Inteligência desenvolvida por Dweck (1999), as pesquisas centram-se:
· na análise do presente,
· em compreender porque os alunos mudam de comportamento quando estão envolvidos na realização de uma determinada tarefa,
· em perceber porque varia o sentido de mudança conforme as pessoas
· entender qual o impacto sobre a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal.
Sendo uma teoria sobre o self,
§ ocupa-se do modo como as pessoas constroem representações acerca de si próprios que orientam o seu comportamento;
§ identifica características pessoais que podem influenciar as interacções das pessoas com o meio;
§ identifica características do meio que podem alterar os padrões do comportamento.
Segundo Dweck, a adopção de uma concepção estática ou dinâmica não só varia de pessoa para pessoa, mas pode também variar na mesma pessoa, conforme os domínios escolares ou em função das pressões situacionais. Os estudiosos Dweck & Legget (1988), Mueller & Dweck (1998) e Hong, Chiu, Dweck & Lin (1998), concluíram que os alunos que aderem a uma teoria estática de inteligência seleccionam objectivos de performance, renunciam a tarefas relevantes para esconder eventuais lacunas, desistem facilmente face a obstáculos, quando encaram dificuldades e adoptam o abandono. Estes alunos revelam-se convencidos e assumem que os resultados em qualquer tarefa representam o seu nível intelectual actual como futuro. Por outro lado, os alunos que adoptam uma teoria de inteligência dinâmica seleccionam objectivos de aprendizagem, têm objectivos de aprendizagem, são persistentes e adoptam um padrão orientado para a mestria. Estes alunos revelam-se mais simples e realistas e consideram que os resultados das tarefas indicam a adaptação das suas capacidades ou estratégias de resolução de problemas e podem assinalar, construtivamente, mais treino, esforço ou mudanças, com o intuito de contribuir para o desenvolvimento das suas competências.
Bibliografia
Fontaine, A.M.(2005). Motivação em Contexto Escolar. (Temas Universitários) Lisboa:Universidade Aberta.